A Marcha, ocorrida dia 24, em Brasília, foi um grande chamado à
unidade entre trabalhadores da cidade e do campo, dos setores público e
privado, juventude e aposentados, enfim, a todas as categorias que lutam
por um país mais justo, por uma sociedade igualitária.
As ruas de Brasília foram tomadas por uma multidão de mais de 20 mil
manifestantes – 25 mil segundo a própria Polícia Militar do Distrito
Federal – vindos de praticamente todos os estados brasileiros. Desde a
madrugada de quarta-feira, os que chegavam exibiam suas bandeiras em
frente ao Estádio Mané Garrincha, com as mais diversas reivindicações e
palavras de ordem. O sol nem tinha amanhecido. Mas eles estavam
animados, mesmo depois de muitas horas de estrada.
Entre as bandeiras principais da marcha estavam a denúncia do ACE
(Acordo Coletivo Especial); a anulação da reforma da previdência de
2003, comprada com dinheiro do mensalão e o fim do fator previdenciário
sem a implantação da fórmula 85/95; as reivindicações dos professores
estaduais em greve, a reforma agrária e a luta contra as privatizações
programadas pelo governo.
Durante cinco quilômetros de percurso, os trabalhadores chamaram a
atenção da população, de governantes e de parlamentares, e denunciaram
as iniciativas do governo que atacam os direitos dos trabalhadores
brasileiros. Centenas de faixas, cartazes e palavras de ordem
expressavam as diversas bandeiras de luta que acolhia aquela
manifestação. Entre as palavras de ordem: “O povo na rua, Dilma a culpa é
sua”.
O secretário-geral da Condsef, Josemilton Maurício da Costa,
parabenizou a iniciativa dos movimentos independentes e afirmou que a
participação dos trabalhadores na Marcha superou as expectativas. “O
movimento independente é diferente dos movimentos ligados ao governo. No
movimento independente não tem jogo, e a Dilma sabe que é este
movimento que faz a luta e que fez a greve do ano passado. Os
trabalhadores e trabalhadoras têm compromisso com os trabalhadores e não
com o governo Dilma”, reforçou.
Foto: Raíza Rocha
Denúncia do ACE - Praticamente todas as entidades que se
pronunciaram no microfone fizeram duras críticas ao ACE (Acordo Coletivo
Especial), projeto que abre caminho para retirada de direitos da classe
trabalhadora e que está em discussão em Brasília.
“Viemos aqui para enterrar de uma vez por todas o ACE, para lutar
contra a reforma da previdência que prejudica milhões de trabalhadores.
Viemos aqui porque somos parte da luta contra a opressão e a repressão.
Não é só Feliciano que tem de sair. O Congresso tem uma corja de
preconceituosos, que não nos representam”, falou aos manifestantes o
dirigente da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas Atnágoras
Lopes.
E o ACE de fato foi enterrado, ao menos simbolicamente. Usando um
caixão funerário, as entidades fizeram o “enterro” em frente ao
Ministério do Trabalho.
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos,
Antonio Ferreira de Barros, o Macapá, também ressaltou a necessidade da
classe trabalhadora e dos movimentos sociais se unirem contra o ACE.
“Esse projeto apresentado à presidente Dilma, aos deputados e
senadores é um acordo para colocar nossos direitos básicos, históricos
nas mãos dos empresários. Por trás desse projeto estão as grandes
empresas, como GM, Volkswagen, Embraer, Ford e Scania”, disse Macapá.
O ACE nasceu no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, que, como a CUT, deu as costas para a classe trabalhadora e optou por apoiar o mesmo governo que aliou-se aos patrões.
Para o coordenador-geral do Sinasefe, Shilton Roque, a Marcha mostra
que os trabalhadores não estão satisfeitos com o tipo de governo da
presidenta Dilma. “Estamos aqui reunidos para dizer não ao ACE e afirmar
que somos contra a precarização e ataques aos nossos direitos,
conquistados ao longo dos anos. Os trabalhadores estão revoltados com
essa situação, o movimento classista está na rua. O ato mostra a
indignação e a estratégia de luta é a unidade”, afirmou.
Na frente do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), os trabalhadores
fizeram o enterro simbólico do ACE. Durante o ato, Paulo Barela, da
CSP-Conlutas, afirmou: “direito se amplia, não se negocia”.
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O dirigente da ADMAP (Associação Democrática dos Aposentados e Pensionistas do Vale do Paraíba), Josias Mello, abriu o debate.
“É preciso unidade entre nós, independente da categoria. Todos
sofremos o mesmo ataque. O governo está destruindo a Previdência para
entregar nas mãos dos empresários. Com essa política, a juventude de
hoje jamais se aposentará. Agora, com a desoneração da folha de
pagamento, a Previdência está sendo destruída. A Previdência não é do
governo, é nossa”, disse Josias.
O representante de “A CUT Pode Mais” Alberto Ledur afirmou que “a
Marcha tem ampla pauta classista de reivindicações e que não se rendeu
ao peleguismo da direção majoritária da CUT para denunciar a Reforma da
Previdência comprada e que retira direitos. Queremos seguir construindo
com o Espaço de Unidade e Ação para lutar pelos direitos das classes
trabalhadoras”.
O deputado federal Ivan Valente (PSOL) parabenizou todas as entidades
presentes por propor uma pauta alternativa, não conservadora, distante
da pauta patronal e do agronegócio. Ele ainda ressaltou a necessidade de
se anular a reforma de previdência e barrar a privatização dos portos,
que representa a entrega do patrimônio público para o setor privado.
“Essa é a primeira grande manifestação pela anulação da reforma da
Previdência, que foi maculada pela compra de votos do mensalão. Se houve
compra de votos, todo o processo da reforma foi contaminado. Os
aposentados não podem pagar por isso”, disse.
Luta dos Servidores - “O ANDES-SN, representado pelas suas
Secretarias Regionais e Seções Sindicais de todo país, defenderam a
educação e saúde contra os ataques, como é o caso da Empresa Brasileira
de Serviços Hospitalares (Ebserh), que privatiza a saúde e retira
direitos dos trabalhadores e da população usuária”, afirmou a presidente
do ANDES-SN, Marinalva Oliveira. A diretora do Sindicato Nacional
acrescentou que o ANDES-SN continuará a luta nos estados, contra as
ações do governo que precarizam as condições de trabalho na área da
educação.
Para a dirigente nacional da Fasubra, Janine Teixeira, o governo
privatiza as políticas públicas do país. “Este governo será lembrado
como o governo que acabou com o SUS, que está implementando com
autoritarismo a Ebserh. Um governo travestido de esquerda pior que de
FHC. O acordo feito com a Fasubra não foi cumprido integralmente. Só
juntos vamos conquistar o que a gente merece”, disse.
Lutas sem fronteiras – Segundo o presidente nacional do PSTU,
José Maria de Almeida, a Marcha representou um importante dia na luta da
classe trabalhadora brasileira e também lembrou das lutas populares que
estão acontecendo em todo o mundo.
“Somos internacionalistas, portanto vamos dar um forte viva à luta
dos nossos irmãos na Europa, no norte da África, na Síria, Haiti”,
conclamou.
Zé Maria fez ainda severas críticas ao pacote de ajuda ao setor sucroalcooleiro e ao agronegócio, anunciado pelo governo Dilma.
“Podemos ver que a natureza do governo Dilma é de subir os preços dos
alimentos. Se não é assim, então por que os preços não são congelados?
Por que não são reduzidos? Porque assim só os trabalhadores se
beneficiariam. Já com a redução dos impostos, quem ganha são os
atravessadores”.
Reforma Agrária - O integrante da Coordenação do MST Alexandre
Conceição e José Rainha, representando os sem-terra do entorno do
Pontal do Paranapanema, criticaram a política de reforma agrária
conduzida pelo governo Dilma.
“O governo paralisou a reforma agrária. Todo dia tem mandato de
prisão contra sem-teto. No Supremo Tribunal Federal, tem mais de 500
processos de assentamentos parados. Estamos no campo para resistir e
cobrar do governo Dilma, que foi um dos piores em relação à reforma
agrária”, disse Alexandre.
Zé Rainha foi mais longe “Só tem um jeito de fazer a reforma, que é
com todos os companheiros do campo. Se a Dilma não tiver tinta na
caneta, vamos fazer a reforma agrária com a foice e o martelo”. Zé
Rainha lembrou dos 19 mortos do assentamento de Eldorado do Carajás,
ocorrido no dia 17 de abril de 1996.
O Movimento Terra Trabalho e Liberdade (MTL) chamou a unidade das
lutas sociais, “contra o governo que não tem compromisso com a luta do
campo, mas investe nos campos de futebol. Esse governo covarde se furta
de contribuir com a luta dos trabalhadores”, disse Cabral, do MTL.
Brasília da cor do arco Iris - Em meio a milhares de
manifestantes, jovens da Anel (Assembleia Nacional dos Estudantes –
Livre) promoveram um beijaço e um casamento homossexual coletivos. Foi
uma forma maneira de protestar contra a presença do deputado federal
Marco Feliciano à frente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da
Câmara dos Deputados.
Por fim, uma bandeira colorida do LGBT foi pendurada nas torres do Congresso Nacional.
“Hoje pintamos Brasília da cor do arco iris, pelo Fora Feliciano. Não
vamos aceitar nenhum corrupto e opressor nesse congresso. É com muita
honra que digo que a juventude tem de lutar com vocês. Sem a aliança
operária-estudantil não vamos alcançar nossas reivindicações. Nosso
futuro não se negocia. Queremos um futuro livre”, disse Ana Clara
Saraiva, da ANEL.
As mulheres também marcaram seu devido lugar na Marcha.
“Nosso lugar é nas ruas, nas lutas. Não podemos permitir que, mesmo
com a primeira mulher a presidir o país, ainda mulheres continuem sendo
assassinadas, recebam salários menores que os dos homens, que não possam
decidir sobre seu próprio corpo. O MML (Movimento Mulheres em Luta)
está nessa marcha para honrar as mulheres, porque é assim que se combate
o machismo”, disse Letícia, do MML.
Uma só luta - Foram cerca de três horas de manifestações, que
se encerraram com as palavras do presidente da Feraesp (Federação dos
Empregados Rurais Assalariados do Estado de São Paulo), Élio Neves.
“Quando a gente luta como estudante, a gente acredita que o amanhã
vai ser melhor. Quando a gente já tem barba branca, acredita que o
futuro vai ser melhor. Nós, estudantes, índios, gays, funcionários
públicos, sem-terra, sem moradia, sem trabalho, aposentados, nós somos
todos um só, somos a classe trabalhadora”.
E finalizou: “O Brasil é nosso, mas estão querendo nos tirar. Ao
terminar a marcha, temos que reafirmar que a luta não começou nem vai
terminar aqui. É com essa energia que não cansaremos jamais. Seguiremos
sem medo de construir uma sociedade justa, verdadeira, fraterna e
feliz”.
Entidades organizadoras – Além da CSP-Conlutas, compõem a
organização da Marcha as seguintes entidades e organizações: A CUT Pode
Mais (corrente que integra a CUT), CNTA (Confederação Nacional de
Trabalhadores da Alimentação), Cobap (Confederação Brasileira dos
Aposentados e Pensionistas), Condsef (Confederação Nacional dos
Servidores Públicos Federais), Andes-SN (Sindicato Nacional dos Docentes
do Ensino Superior), Cpers (Centro dos Professores Do Estado Do Rio
Grande Do Sul), MST, Feraesp (Federação dos Empregados Rurais
Assalariados do Estado de São Paulo), Admap (Associação Democrática dos
Aposentados e Pensionistas), Anel (Assembleia Nacional dos Estudantes –
Livre), assim como entidades de movimento populares, entre outras.
Colaboração: ANDES-SN e Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região
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