quinta-feira, 2 de maio de 2013

Marcha vitoriosa em Brasília defende direitos e faz chamado à luta e à unidade



A Marcha, ocorrida dia 24, em Brasília, foi um grande chamado à unidade entre trabalhadores da cidade e do campo, dos setores público e privado, juventude e aposentados, enfim, a todas as categorias que lutam por um país mais justo, por uma sociedade igualitária.

As ruas de Brasília foram tomadas por uma multidão de mais de 20 mil manifestantes – 25 mil segundo a própria Polícia Militar do Distrito Federal – vindos de praticamente todos os estados brasileiros. Desde a madrugada de quarta-feira, os que chegavam exibiam suas bandeiras em frente ao Estádio Mané Garrincha, com as mais diversas reivindicações e palavras de ordem. O sol nem tinha amanhecido. Mas eles estavam animados, mesmo depois de muitas horas de estrada.

Entre as bandeiras principais da marcha estavam a denúncia do ACE (Acordo Coletivo Especial); a anulação da reforma da previdência de 2003, comprada com dinheiro do mensalão e o fim do fator previdenciário sem a implantação da fórmula 85/95; as reivindicações dos professores estaduais em greve, a reforma agrária e a luta contra as privatizações programadas pelo governo.

Durante cinco quilômetros de percurso, os trabalhadores chamaram a atenção da população, de governantes e de parlamentares, e denunciaram as iniciativas do governo que atacam os direitos dos trabalhadores brasileiros. Centenas de faixas, cartazes e palavras de ordem expressavam as diversas bandeiras de luta que acolhia aquela manifestação. Entre as palavras de ordem: “O povo na rua, Dilma a culpa é sua”.
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O secretário-geral da Condsef, Josemilton Maurício da Costa, parabenizou a iniciativa dos movimentos independentes e afirmou que a participação dos trabalhadores na Marcha superou as expectativas. “O movimento independente é diferente dos movimentos ligados ao governo. No movimento independente não tem jogo, e a Dilma sabe que é este movimento que faz a luta e que fez a greve do ano passado. Os trabalhadores e trabalhadoras têm compromisso com os trabalhadores e não com o governo Dilma”, reforçou.

Foto: Raíza Rocha
Denúncia do ACE - Praticamente todas as entidades que se pronunciaram no microfone fizeram duras críticas ao ACE (Acordo Coletivo Especial), projeto que abre caminho para retirada de direitos da classe trabalhadora e que está em discussão em Brasília.

“Viemos aqui para enterrar de uma vez por todas o ACE, para lutar contra a reforma da previdência que prejudica milhões de trabalhadores. Viemos aqui porque somos parte da luta contra a opressão e a repressão. Não é só Feliciano que tem de sair. O Congresso tem uma corja de preconceituosos, que não nos representam”, falou aos manifestantes o dirigente da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas Atnágoras Lopes.

E o ACE de fato foi enterrado, ao menos simbolicamente. Usando um caixão funerário, as entidades fizeram o “enterro” em frente ao Ministério do Trabalho.

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, Antonio Ferreira de Barros, o Macapá, também ressaltou a necessidade da classe trabalhadora e dos movimentos sociais se unirem contra o ACE. 

“Esse projeto apresentado à presidente Dilma, aos deputados e senadores é um acordo para colocar nossos direitos básicos, históricos nas mãos dos empresários. Por trás desse projeto estão as grandes empresas, como GM, Volkswagen, Embraer, Ford e Scania”, disse Macapá.



O ACE nasceu no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, que, como a CUT, deu as costas para a classe trabalhadora e optou por apoiar o mesmo governo que aliou-se aos patrões.

Para o coordenador-geral do Sinasefe, Shilton Roque, a Marcha mostra que os trabalhadores não estão satisfeitos com o tipo de governo da presidenta Dilma. “Estamos aqui reunidos para dizer não ao ACE e afirmar que somos contra a precarização e ataques aos nossos direitos, conquistados ao longo dos anos. Os trabalhadores estão revoltados com essa situação, o movimento classista está na rua. O ato mostra a indignação e a estratégia de luta é a unidade”, afirmou.


Na frente do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), os trabalhadores fizeram o enterro simbólico do ACE. Durante o ato, Paulo Barela, da CSP-Conlutas, afirmou: “direito se amplia, não se negocia”.

8681575808_39ff1c4735Defesa da Previdência - A reforma de Previdência e o Fator Previdenciário também foram alvo certo das entidades.

O dirigente da ADMAP (Associação Democrática dos Aposentados e Pensionistas do Vale do Paraíba), Josias Mello, abriu o debate.

“É preciso unidade entre nós, independente da categoria. Todos sofremos o mesmo ataque. O governo está destruindo a Previdência para entregar nas mãos dos empresários. Com essa política, a juventude de hoje jamais se aposentará. Agora, com a desoneração da folha de pagamento, a Previdência está sendo destruída. A Previdência não é do governo, é nossa”, disse Josias.

O representante de “A CUT Pode Mais” Alberto Ledur afirmou que “a Marcha tem ampla pauta classista de reivindicações e que não se rendeu ao peleguismo da direção majoritária da CUT para denunciar a Reforma da Previdência comprada e que retira direitos. Queremos seguir construindo com o Espaço de Unidade e Ação para lutar pelos direitos das classes trabalhadoras”.

O deputado federal Ivan Valente (PSOL) parabenizou todas as entidades presentes por propor uma pauta alternativa, não conservadora, distante da pauta patronal e do agronegócio. Ele ainda ressaltou a necessidade de se anular a reforma de previdência e barrar a privatização dos portos, que representa a entrega do patrimônio público para o setor privado.

“Essa é a primeira grande manifestação pela anulação da reforma da Previdência, que foi maculada pela compra de votos do mensalão. Se houve compra de votos, todo o processo da reforma foi contaminado. Os aposentados não podem pagar por isso”, disse.

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Luta dos Servidores - “O ANDES-SN, representado pelas suas Secretarias Regionais e Seções Sindicais de todo país, defenderam a educação e saúde contra os ataques, como é o caso da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), que privatiza a saúde e retira direitos dos trabalhadores e da população usuária”, afirmou a presidente do ANDES-SN, Marinalva Oliveira. A diretora do Sindicato Nacional acrescentou que o ANDES-SN continuará a luta nos estados, contra as ações do governo que precarizam as condições de trabalho na área da educação.

Para a dirigente nacional da Fasubra, Janine Teixeira, o governo privatiza as políticas públicas do país. “Este governo será lembrado como o governo que acabou com o SUS, que está implementando com autoritarismo a Ebserh. Um governo travestido de esquerda pior que de FHC. O acordo feito com a Fasubra não foi cumprido integralmente. Só juntos vamos conquistar o que a gente merece”, disse.

Lutas sem fronteiras – Segundo o presidente nacional do PSTU, José Maria de Almeida, a Marcha representou um importante dia na luta da classe trabalhadora brasileira e também lembrou das lutas populares que estão acontecendo em todo o mundo.

“Somos internacionalistas, portanto vamos dar um forte viva à luta dos nossos irmãos na Europa, no norte da África, na Síria, Haiti”, conclamou.

Zé Maria fez ainda severas críticas ao pacote de ajuda ao setor sucroalcooleiro e ao agronegócio, anunciado pelo governo Dilma.

“Podemos ver que a natureza do governo Dilma é de subir os preços dos alimentos. Se não é assim, então por que os preços não são congelados? Por que não são reduzidos? Porque assim só os trabalhadores se beneficiariam. Já com a redução dos impostos, quem ganha são os atravessadores”. 

Reforma Agrária - O integrante da Coordenação do MST Alexandre Conceição e José Rainha, representando os sem-terra do entorno do Pontal do Paranapanema, criticaram a política de reforma agrária conduzida pelo governo Dilma.

“O governo paralisou a reforma agrária. Todo dia tem mandato de prisão contra sem-teto. No Supremo Tribunal Federal, tem mais de 500 processos de assentamentos parados. Estamos no campo para resistir e cobrar do governo Dilma, que foi um dos piores em relação à reforma agrária”, disse Alexandre.

Zé Rainha foi mais longe “Só tem um jeito de fazer a reforma, que é com todos os companheiros do campo. Se a Dilma não tiver tinta na caneta, vamos fazer a reforma agrária com a foice e o martelo”.  Zé Rainha lembrou dos 19 mortos do assentamento de Eldorado do Carajás, ocorrido no dia 17 de abril de 1996.

O Movimento Terra Trabalho e Liberdade (MTL) chamou a unidade das lutas sociais,  “contra o governo que não tem compromisso com a luta do campo, mas investe nos campos de futebol. Esse governo covarde se furta de contribuir com a luta dos trabalhadores”, disse Cabral, do MTL.

Brasília da cor do arco Iris - Em meio a milhares de manifestantes, jovens da Anel (Assembleia Nacional dos Estudantes – Livre) promoveram um beijaço e um casamento homossexual coletivos. Foi uma forma maneira de protestar contra a presença do deputado federal Marco Feliciano à frente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados.

Por fim, uma bandeira colorida do LGBT foi pendurada nas torres do Congresso Nacional.

“Hoje pintamos Brasília da cor do arco iris, pelo Fora Feliciano. Não vamos aceitar nenhum corrupto e opressor nesse congresso. É com muita honra que digo que a juventude tem de lutar com vocês. Sem a aliança operária-estudantil não vamos alcançar nossas reivindicações. Nosso futuro não se negocia. Queremos um futuro livre”, disse Ana Clara Saraiva, da ANEL.

As mulheres também marcaram seu devido lugar na Marcha.

“Nosso lugar é nas ruas, nas lutas. Não podemos permitir que, mesmo com a primeira mulher a presidir o país, ainda mulheres continuem sendo assassinadas, recebam salários menores que os dos homens, que não possam decidir sobre seu próprio corpo. O MML (Movimento Mulheres em Luta) está nessa marcha para honrar as mulheres, porque é assim que se combate o machismo”, disse Letícia, do MML.

Uma só luta - Foram cerca de três horas de manifestações, que se encerraram com as palavras do presidente da Feraesp (Federação dos Empregados Rurais Assalariados do Estado de São Paulo), Élio Neves.

“Quando a gente luta como estudante, a gente acredita que o amanhã vai ser melhor. Quando a gente já tem barba branca, acredita que o futuro vai ser melhor. Nós, estudantes, índios, gays, funcionários públicos, sem-terra, sem moradia, sem trabalho, aposentados, nós somos todos um só, somos a classe trabalhadora”.

E finalizou: “O Brasil é nosso, mas estão querendo nos tirar. Ao terminar a marcha, temos que reafirmar que a luta não começou nem vai terminar aqui. É com essa energia que não cansaremos jamais. Seguiremos sem medo de construir uma sociedade justa, verdadeira, fraterna e feliz”.

Entidades organizadoras – Além da CSP-Conlutas, compõem a organização da Marcha as seguintes entidades e organizações: A CUT Pode Mais (corrente que integra a CUT), CNTA (Confederação Nacional de Trabalhadores da Alimentação), Cobap (Confederação Brasileira dos Aposentados e Pensionistas), Condsef (Confederação Nacional dos Servidores Públicos Federais), Andes-SN (Sindicato Nacional dos Docentes do Ensino Superior), Cpers (Centro dos Professores Do Estado Do Rio Grande Do Sul), MST, Feraesp (Federação dos Empregados Rurais Assalariados do Estado de São Paulo), Admap (Associação Democrática dos Aposentados e Pensionistas), Anel (Assembleia Nacional dos Estudantes – Livre), assim como entidades de movimento populares, entre outras.

Colaboração: ANDES-SN e Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região

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