O Sindicato dos Trabalhadores na Extração e Transformação Mineral de
Alpinópolis e Região – Sintemar promoveu na última sexta-feira (15), em
Alpinópolis (MG) o Seminário “Silicose e Saúde do Trabalhador”. Cerca de
150 pessoas participaram do evento realizado na Câmara Municipal de
Alpinópolis e que teve início às 18h30. Após a composição da mesa dos
trabalhos o estudante Hugo Sousa da Fonseca interpretou o Hino Nacional
Brasileiro. Em seguida passou-se para a pauta do Seminário, sendo que
por quase quatro horas trabalhadores, representantes do Executivo
Municipal, sindicalistas e uma engenheira de saúde e segurança no
trabalho se revezaram nas exposições e apresentação de sugestões.
O servidor público Sanderson Flávio de Oliveira, referência técnica
do município para a questão silicose, representando a Secretaria
Municipal de Saúde, e Secretária Municipal de Assistência Social,
Juliana Pimenta, confirmaram que constam dos cadastros municipais que há
no município de Alpinópolis, comprovados, 42 casos de trabalhadores
portadores de silicose, sendo um caso de trabalhadores da extração e os
demais em depósito, local em que se dá a serragem das pedras. A
assistente social relatou que o perfil predominante dos afetados pela
doença é de homens, com idade entre 30 e 35 anos, com pouco estudo e
casado.
A engenheira de segurança no trabalho, Dra. Marta de Freitas,
ex-diretora da Fundacentro e atualmente assessora de saúde do
trabalhador da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Indústria –
CNTI, fez uma exposição técnica sobre o tema. “Mais de 99% do quartzito é
composto por sílica, ou seja, a pedra mineira é sílica pura e a
inalação do pó da pedra (sílica) vai sendo depositado no pulmão do
trabalhador e dependendo do processo utilizado na produção três anos e
até menos são suficientes para levar o trabalhador à invalidez. Não
queiram ver a morte de um portador de silicose, é terrível, a pessoa
morre consciente, com falta de ar, sem conseguir respirar”, revelou.
A Dra. Marta de Freitas disse ainda que a constatação do caso de
silicose em um extrator em 2009 é preocupante e que certamente isso se
deve a mudanças na forma de extração da pedra, com o uso de perfuratriz.
Para ela a prevenção, com a adoção de medidas e técnicas simples de
segurança e saúde do trabalhador, é o único meio de impedir a
proliferação da doença. “É preciso vontade política do empregador em
colocar a salvo da doença o trabalhador, em primeiro lugar com a adoção
de medidas de proteção coletiva e em segundo lugar o fornecimento de
equipamentos de proteção individual” disse a engenheira, que informou
que há muito tempo já se sabe no Brasil o que fazer para evitar a
silicose e sugeriu a adoção no município do Programa Nacional de
Erradicação da Silicose, do Ministério do Trabalho. Freitas citou
exemplo de trabalho feito em Nova Lima, na Mina Morro Velho, que desde
1989 não registra caso novo de silicose, sendo que quando o Programa de
Erradicação foi implantado havia mais de seis mil trabalhadores afetados
pela doença.
O depoimento de um trabalhador com silicose, de 29 anos de idade,
emocionou os presentes. Ronaldo Silva de Oliveira relatou as
dificuldades que vem enfrentando para sobreviver e sustentar a família.
Sem conseguir emprego formal porque não consegue ser aprovado no exame
admissional, o trabalhador chegou a ser preso pela Polícia Ambiental por
estar retirando pedras em um monte de entulhos abandonado. O
trabalhador disse que não deseja aos companheiros de profissão o que tem
passado e conclamou a todos para que se unam e exijam melhores
condições de trabalho aos que estão na ativa e dignidade no tratamento
aos que não conseguem mais produzir. “Cantamos no início o hino
nacional. Não basta dizer com a boca verás que um filho seu não foge à
luta, é preciso dizer isso com o coração e agir para que ninguém fique
doente ou morra buscando a sobrevivência e o sustento da família”, disse
emocionado o jovem.
O último a falar foi o secretário regional da CNTI, Cláudio Ferreira,
que reiterou o compromisso firmado pela engenheira Marta de Freitas, de
que a CNTI quer ser parceira na implantação do Programa de Erradicação
da Silicose em Alpinópolis, informando ainda que em agosto a entidade,
em parceria com a CSP-Conlutas irá implantar o Forum Regional Permanente
de Segurança e Saúde do Trabalhador.
Em suas considerações finais os debatedores elogiaram a organização
do evento e todos se mostraram dispostos em contribuir com a implantação
do Programa de Erradicação da Silicose no Município.
No final, o presidente do Sintemar, Osmar, e também o vice-presidente
Ditinho, agradeceram os debatedores pela contribuição e destacaram que
contam com a ajuda de todos para solução de tão grave problema.
O Seminário foi dirigido pelo advogado Paulo Fonseca, representante
do Movimento Terra, Trabalho e Liberdade – MTL/MG, que alertou para o
fato de que em pelo menos outros seis municípios da região há exploração
da pedra mineira, o que induz que a discussão seja levada aos
municípios de Capitólio, Carmo do Rio Claro, Guapé, Ilicínea, São João
Batista do Glória e São José da Barra.
O evento promovido pelo Sintemar contou com o apoio da Central
Sindical e Popular CSP-Conlutas, da Federação dos Metalúrgicos de Minas
Gerais, do Movimento Terra, Trabalho e Liberdade-MTL, da Associação de
Promoção, Desenvolvimento e Proteção Cultural de
Alpinópolis-ASSOPROCULTURAL e da Confederação Nacional dos Trabalhadores
na Indústria-CNTI.
O evento foi coberto por diversos órgãos de imprensa local e regional.
http://g1.globo.com/mg/sul-de-minas/jornal-da-eptv/videos/t/edicoes/v/seminario-discute-os-males-da-silicose-em-alpinopolis-mg/1996575/
Fonte: cspconlutas.org
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